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domingo, 21 de março de 2010

O Pré-Modernismo e a Obra “Viagem ao Céu” de Monteiro Lobato

Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA
Centro de Letras e Artes
Curso: Letras
Disciplina: Literatura Brasileira II
Professora: Mônica Paiva


Luiza Selma Freire Araújo
Estudante do 7ª período do curso de letras da UVA

RESUMO

Este trabalho apresenta como principal objetivo mostrar o momento histórico e as características do Pré Modernismo e, a partir daí analisar a inteligência e a esperteza das personagens da obra “Viagem ao Céu” de Monteiro Lobato.

Palavras - chave: Pré-Modernismo. Monteiro Lobato. Inteligência. Esperteza.

Considerações Iniciais

Este artigo apresenta o momento histórico e características do Pré-Modernismo, representativos na inteligência e esperteza das personagens da obra “Viagem ao Céu”, de Monteiro Lobato.

Biografia de Monteiro Lobato

Escritor, editor, diplomata, industrial, fazendeiro, José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, estado de São Paulo.
Formado pela faculdade de Direito de São Paulo do Largo de São Francisco , viveu em pequenas cidades do Vale do Paraíba e na fazenda que herdou do avo, o Visconde de Tremembé, até mudar-se para São Paulo, em 1918 quando começou a carreira literária e de editor.
Neste mesmo ano, comprou a Revista do Brasil, fundou a Editora Monteiro Lobato e editou Urupês, livro de contos.
Em 1924, devido a uma crise de energia elétrica. Lobato viu sua editora falir. No ano seguinte fundou com alguns amigos a Companhia Editora Nacional, a pioneira das grandes editoras modernas brasileiras.
De 1927 a 1931, Lobato viveu nos Estados Unidos, como adido comercial brasileiro. Ao voltar convicto da necessidade de modernizar o país, entregou-se ferrenhamente a causa da exploração do petróleo e do ferro em solo brasileiro, Durante dez anos promoveu uma acirrada campanha nacionalista que resultou na sua prisão, devido a uma carta que escreveu ao então ditador Getúlio Vargas, denunciando manobras contra o seu projeto.
Solto três meses depois, Lobato voltou a dedicar-se aos livros, participando da fundação da Editora Brasiliense. Em 1946, mudou-se para a Argentina, onde seus livros foram muito bem sucedidos. Ao retornar ao país, em 1947, participou da companhia pública contra a cassação de parlamentares do Partido Comunista. Em 1948, um espasmo vascular causou-lhe a morte.

Momento Histórico

O Brasil do início do século mantém basicamente a mentalidade do final do século XIX, pós republicana, positivista e liberal. Entretanto o quadro político tenso põe em risco o poder das oligarquias civis, provenientes dos setores rurais.
Uma burguesia industrial nascente, ligada a produção e exportação do café no eixo Rio- São Paulo- minas, começa a ascender. A urbanização e a imigração, decorrentes do crescimento industrial, trazem à cena ideologias progressistas que conflitam com o nosso tradicionalismo agrário.
As pressões de outros segmentos da população interessados numa mudança política, por exemplo, os profissionais liberais, a pequena classe média, alguns setores militares, o proletariado manifestam-se através de movimentos como a Revolta contra a vacina obrigatória (Rio de Janeiro, 1904), a Revolta da Chibata (Rio de Janeiro, 1910) e as duas greves gerais de operários (São Paulo, 1917-1919).


No meio rural, por sua vez, as tensões se expressam na proliferação de grupos de cangaceiros e em movimentos messiânicos relacionados a eventos de grande repercussão política, como a Guerra de Canudos (Bahia, 1896-1897), a Revolta do Contestado (Santa Catarina, 1912-1916) e o Levante de Juazeiro (Ceará, 1911-1914), que teve o Padre Cícero como um dos protagonistas.
Em suma, parece haver “dois brasis” em estado de confronto, ao longo da Primeira República: aquele agrário, tradicionalista e conservador, que detém o poder, e este que anuncia a virada do século, um país industrial, urbano, em busca de modernização. Em termos culturais predomina a chamada “literatura sorriso da sociedade”.

Características da Época

Nesse período, expuseram-se os problemas do homem do sertão e a existência de vários Brasis ainda não descobertos através da obra ”Os sertões”, de Euclides da Cunha. Foi característica também uma visão pessimista do homem brasileiro, especialmente dos alemães, onde Graça Aranha mostra essa visão, em sua obra Canaã.
É característica da obra de Lima Barreto temas como: a cidade do Rio de Janeiro e seus operários, o mulato, os moradores dos subúrbios e das favelas, todos vistos sob uma óptica social, carregados de amarga crítica, mas com uma tendência humorística. Seus enredos são simples, o registro, porém, das sensações e reflexões de suas personagens é profundo, levando-as muitas vezes a tirar conclusões ora satíricas, ora revoltadas, ora pessimistas como acontece em “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.
A obra de Monteiro Lobato trás como característica a preocupação com o progresso do Brasil, faz reflexões sobre os problemas brasileiros, como a saúde, a instrução, a situação do caboclo. Seus cenários, personagens e enredos resgatam o Brasil rural em extensão, com um tom marcado pela oralidade e uma constante preocupação com as contradições do país, no impasse entre o atraso e a modernidade.
Deixou-nos também uma extensa obra infantil, de natureza moralista e racionalística, cujos enredos se passam no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Na poesia temos como principal representante Augusto dos Anjos, com poemas que desafiam classificações rígidas e inserem em nosso contexto cultural algumas características universais modernas.

A Inteligência e a Esperteza das Personagens da Obra “Viagem ao Céu” de Monteiro Lobato.

Como escritor, Monteiro Lobato destaca-se como criador da literatura voltada ao público infantil e juvenil ambientadas no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, onde têm marcado gerações e gerações de leitores.
Nelas, o Brasil arcaico, rural, se mistura com o Brasil moderno da ciência. Na obra Viagem ao Céu , temos personagens de tradição diversas, como São Jorge e os heróis gregos que se misturam com inesquecíveis criações - Dona Benta, Narizinho, Pedrinho, Tia Nastácia, a boneca Emília, o visconde de Sabugosa e o Burro falante...
Percebemos no livro em estudo que uma das características da obra infantil de Monteiro Lobato é o grande valor da inteligência, esperteza e conhecimento das suas personagens, pois:

O grande desafio das personagens de Lobato é o conhecimento, é através dele que se impõem. A moralidade tradicional é dissolvida, o grande valor passa a ser a inteligência. A esperteza, habilidade quase maliciosa da inteligência, é igualmente valorizada.(CADEMARTOLI 1994, p. 51)

Ao lermos a obra em análise vemos que através de suas espertezas as personagens criam idéias que sempre dão certo para se safarem das enrascadas que se metem em algumas de suas aventuras, mostrando que um plano bem executado vale mil vezes mais do que o mais potente dos muques.
Notamos também ao analisar esta obra, que ela engloba vários conhecimentos como: acontecimentos históricos, geografia e astronomia, como mostram o trecho em que Dona Benta fala sobre Galileu para seus netos: “Um dos maiores sábios do mundo foi Galileu, o inventor da luneta astronômica, graças a qual afirmou que a terra girava em redor do Sol”. (VIAGEM AO CÉU 1995, p.12).
A partir do trecho citado acima notamos que Dona Benta tem um bom conhecimento sobre história. Vemos também que, até mesmo o burro falante é conhecedor da gramática e bem educado quando diz:

E a senhora Anastácia? (ele era a única pessoa do mundo que dizia “senhora Anastácia”, em vez de “tia Anastácia”, como os outros. Nunca houve burro mais bem educado nem mais respeitador da gramática). (VIAGEM AO CÉU 1995, p. 49)

Em relação ao conhecimento sobre geografia encontrado na obra, Pedrinho parece ser conhecedor bastante sobre o mesmo, quando diz a São Jorge: “Lá está o continente europeu! Aquelas ilhas naquele ponto são as ilhas Britânicas, ou Grã-Bretanha”. (VIAGEM AO CÉU 1995, p. 32). Já sobre astronomia a boneca de pano, Emília, tomou a vez e mostrou o que sabia dizendo: “Eu também sei o que é planeta (disse Emília com todo o oferecimento), é um astro que gira em redor do Sol”. (VIAGEM AO CÉU 1995, p. 26).
A partir da análise da obra Viagem ao Céu, percebemos que suas personagens têm uma liberdade, uma criatividade e uma força de vontade na busca pela aventura, instigando assim a curiosidade do leitor, e fazendo com que o mesmo fique estimulado, pois:

Hans Robert Jaus, teórico da literatura, postula que o leitor é uma força histórica e criadora e que uma obra pode ser apreciada a partir do papel ativo que ela possibilita a seu destinatário. (CADEMARTOLI 1994, p. 50).

Seguindo a mesma linha de raciocínio vemos que, além de tudo, os livros de Monteiro Lobato têm como objetivo ensinar a criança a ter raciocínio próprio e visão crítica de mundo, através de sua linguagem simplificada.

Considerações Finais

A partir das ações dos personagens da obra em estudo, percebemos que eles são realmente muito inteligentes e, possuem uma sabedoria e esperteza impressionantes, que incentivam a curiosidade da criança e, fazem com que a mesma fique estimulada, já que ser esperto é o segredo da vida e, também a moral da maioria das fábulas de Monteiro Lobato.

Referências Bibliográficas

AMARAL, Emília. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação. São Paulo: FTD, 2000.
SILVA, Antônio de Siqueira e BERTOLIN, Rafael. Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Produção de Texto, Atividades. São Paulo: IBEP.
CADEMARTOLI, Lígia. O que é literatura infantil. 6° Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu. 45° Ed.- São Paulo: Brasiliense, 1995.

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