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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ANÁLISE DO GÊNERO CRÔNICA

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ –UVA

CENTRO DE LETRAS E ARTES - CLA
CURSO DE LETRAS
PRODUÇÃO DE TEXTO

ANÁLISE DO GÊNERO CRÔNICA

BASTOS, Nayanna Mesquita
SILVA, Antonia Morgana da
SILVA, Francisca Ângela de Sousa


RESUMO: O presente artigo trata-se do gênero textual crônica. Este gênero narrativo oscila entre a realidade e a imaginação, pois se trata de um relato poético do real, situado na fronteira entre a informação da atualidade e a narração literária. Crônica é debruçar-se sobre um fato, uma época e uma leitura subjetiva de mundo exteriorizada por um autor que ‘fala’ com intimidade e liberdade ao seu leitor, pois redigir uma crônica é ter direito a elaborar um texto livre onde a notícia não seja um produto industrializado, imparcial, objetivo, meramente comercial e descomprometido com interpretações, posicionamentos e opiniões . A crônica é uma somatória de pesquisa, seleção e inspiração e deve escolher um fato capaz de reunir em si mesmo o disperso conteúdo humano, pois só assim ela poderá cumprir o seguinte princípio: informar, ensinar e comover. Através desta pesquisa abordamos as origens do gênero, suas características inerentes na visão de teóricos e dos próprios cronistas, e as semelhanças entre este e o conto.
Palavras-chave: Crônica. Gênero textual. Conto. Linguagem
INTRODUÇÃO

Ao lermos uma crônica, envolvemo-nos, pelo prazer da leitura e proximidade com o gênero, o que nos permite ampliar nosso universo de conhecimento, pois somos instigados à interpretação, e, assim, avançamos como leitores: ultrapassamos a linearidade e, com isso, permitimo-nos atuar como leitores críticos. Tal enfoque de leitura permite ao leitor trilhar caminhos cujo contexto se compreende de diversas formas, seja pela sintaxe, pela semântica, pela estilística e pela retórica, seja pelo gênero crônica, definido entre a argumentação e a narração sobre fatos do cotidiano e um pouco mais.

No que se refere à linguagem, ressaltamos para dois fatores: um, de que a crônica, ao ser escrita sempre em primeira pessoa, desencadeia um diálogo, ou seja, uma conversa imaginária entre autor e leitor; outro, de que a crônica, escrita num estilo que oscila entre o formal e o informal, marca-se por construções não aprimoradas, o que a torna mais próxima da vida real.

A crônica moderna surgiu, no século XIX, quando a imprensa escrita atinge ampla difusão. Inicialmente, a crônica tinha a função de comentar, refletir num tom dissertativo, sobre questões políticas, econômicas, sociais, culturais.

Aos poucos, as crônicas deixaram de ter a intenção primeira de comentar e de informar e passaram a assumir uma caráter mais descomprometido, cada vez mais leve e com toques humorísticos. Os textos foram deixando de lado a preocupação argumentativa, opinativa e passaram a se aproximar mais da subjetividade e do lirismo da poesia.

Esse gênero procura humanizar o mundo, procura dar sentido à realidade aparentemente caótica, resgatando a singularidade do sujeito num mundo em que as pessoas parecem peças de uma grande máquina. Procura a grandeza dos pequenos gestos despercebidos. Como afirma Antonio Candido, “a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas.”

Suas principais caracteristicas são:

Ligada à vida cotidiana;
 Narrativa informal, familiar, intimista;
 Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial;
 Sensibilidade no contato com a realidade;
Síntese;
Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
Dose de lirismo;
Natureza ensaística;
Leveza;
Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada;
Uso do humor;
Brevidade;
É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.
Através desse trabalho, buscamos enfatizar os potenciais deste gênero textual opinativo, suas características , peculiaridades e familiaridade com os diversos generos existentes e em específico ao gênero conto.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nem sempre é tão fácil definir e classificar os gêneros textuais. Há estudiosos que partem do domínio discursivo, outros que manifestam suas análises apoiando-se para segmentações tipológicas, e, existem ainda alguns que se aproximam do conceito de texto e suas variações. O domínio discursivo diz respeito a natureza da linguagem, esfera discursiva (gênero literário, gênero jornalístico, gênero acadêmico etc.).

As tipologias costumam agrupar os gêneros, dependendo da abordagem escolhido pelo teórico, a narrativa incluiria os gêneros: conto, crônica, poema épico, romance, história cotidiana, lendas, fábulas, mitos, novelas etc.

Os que entendem o gênero como um texto base e suas variações, avaliam a “crônica” por exemplo como um gênero e os subgêneros (crônica narrativa, crônica metafísica, crônica poema-em-prosa, crônica-comentário e crônica-informação) como variáveis de uma mesma categoria.

O conceito de gênero não é uma definição recente, desde os retóricos e os estudiosos da literatura antiga ou clássica já se apresentavam, de forma diversa do que é hoje, as concepções de gêneros.

Conforme justifica Marcuschi (2009, p.147): “O estudo dos gêneros textuais não é novo e, no ocidente já tem pelo menos vinte e cinco séculos, se considerarmos que sua observação sistemática iniciou-se em platão”.

Durante muito tempo, os gêneros foram estudados numa perspectiva dos gêneros literários. No passado, o discurso oral ou escrito era estudado também numa concepção retórica. Nesta percepção, consideravam os elementos da comunicação como indispensáveis para a realização do gênero, que eram “ter o que dizer”, “ter alguém interessado na mensagem” e “saber lidar com o modo de dizer”. Não se usava a palavra gênero, na retórica, mas discurso escrito ou oral, ou ainda, discurso religioso, político e etc.

A crônica se afastou da História com o avanço da imprensa e do jornal. Tornou-se "Folhetim". O folhetim fazia parte da estrutura dos jornais, era informativa e crítica. Aos poucos foi se afastando e se constituindo como gênero literário: a linguagem se tornou mais leve, mas com uma elaboração interna complexa, carregando a força da poesia e do humor.

Ainda hoje há a relação da crônica e o jornalismo. Os jornais ainda publicam crônicas diariamente, mas seu aspecto literário já é indiscutível. No Brasil, a crônica se consolidou por volta de 1930 e atualmente vem adquirindo uma importância maior em nossa literatura graças aos excelentes escritores que resolveram se dedicar exclusivamente a ela, como Rubem Braga e Luís Fernando Veríssimo, além dos grandes autores brasileiros, como Machado de Assis, José de Alencar e Carlos Drummond de Andrade, que também resolveram dedicar seus talentos a esse gênero. Tudo isso fez com que a crônica se desenvolvesse no Brasil de forma extremamente significativa.
DEFINIÇÃO E ORIGEM DO GÊNERO CRÔNICA

A palavra "Crônica" - do Grego, Krónos - mudou de significado ao longo dos séculos. A princípio, designava um relato cronológico dos fatos, isto é, relação ou narração de acontecimentos (episódios) históricos organizados conforme a sequencia linear do tempo. Em termos práticos, a crônica se limitava a registrar os eventos, sem aprofundar-lhes as causas ou dar-lhes qualquer interpretação.

Dentro dessa característica a crônica atingiu seu ápice após o século XII. Porém, nessa altura, a crônica já começava a apresentar uma distinção: as que narravam acontecimentos com a intenção de esclarecer ou interpretar, individualmente, os acontecimentos, mantinham o tradicional nome de crônica. Em contrapartida, as "crônicas breves", isto é, as simples e impessoais notações dos acontecimentos históricos, passaram a denominar-se "cronicões". A partir do século XIX, com o avanço da imprensa e do jornal, a crônica passa a ostentar personalidade literária, mas cursou um longo caminho até se firmar como gênero literário, ainda que dado como um “gênero menor”, como observa Antonio Candido.
A ‘crônica’ não é um ‘gênero maior’. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, —seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. (CANDIDO, 1981, p. 5).
Assim, a crônica assume o papel de registro da realidade social das comunidades humanas e registra os fatos reais ao longo de sua evolução no tempo. Ela como já se viu, firma-se como espaço heterogêneo em que convivem, por exemplo, o pequeno ensaio, o conto ou o poema em prosa. Sua identidade resulta também dessa diferença.

A caracterização da crônica como espaço heterogêneo pode ser vista, então, como decorrente da variedade de tipos em que pode ser escrita: poema-em-prosa, que apresenta conteúdo lírico; comentário, no qual se apreciam os acontecimentos, acumulando assuntos diferentes; crônica metafísica, que promove reflexões de conteúdo filosófico; crônica narrativa, que tem por eixo uma história ou episódio; crônica-informação, que divulga fatos, tecendo sobre eles comentários ligeiros.

Esta combinação de gêneros é uma das características primordiais da crônica brasileira. Contudo, a escrita da crônica no Brasil não se resume a este aspecto. Ela possui uma longa história e esta história apresenta personagens considerados fundamentais no contexto da literatura brasileira.
UM RÁPIDO CONFRONTO ENTRE CRÔNICA E CONTO

Qual a relação entre crônica e conto? Muitas vezes a crônica confunde-se com o conto, mas não é qualquer crônica que se assemelha ao conto. Quando a crônica recebe um tratamento literário em relação ao texto jornalístico, como o uso de várias figuras de linguagem, quando um pequeno enredo é desenvolvido, principalmente com diálogo; é que ela traça fronteiras muito próximas do conto. Tão próxima, que muitas vezes, é difícil estabelecer uma linha divisória. No entanto, podemos enumerar algumas características da crônica que podem ser confrontadas com as do conto.

• Personagens: enquanto o contista mergulha de ponta-cabeça na construção da personagem, o cronista age de maneira mais solta.

• Narrador:Enquanto no conto o narrador (protagonista ou observador) é um personagem. Na crônica, o cronista sequer tem a preocupação de colocar-se na pele de um narrador-personagem ou observador.

• Assunto:O assunto de uma crônica é sempre resultado daquilo que o cronista colhe em suas conversas; das frases que ouve; das pessoas que observa; das situações que registra;

• O Desfecho: No conto há um conflito e, geralmente, um desfecho para ele. Como a finalidade da crônica é analisar as circunstâncias de um fato e não concluí-lo, o desfecho é, praticamente, inexistente.

• A Linguagem: O cronista procura trazer para suas crônicas a oralidade das ruas, isto é, ser oral no escrito. Daí ser predominante nas crônicas a linguagem coloquial e até popular, para introduzir um linguajar de bate-papo (do botequim, da esquina), de conversa-fiada; todos carregados de gírias.

• O Diálogo: É a presença do diálogo na crônica, que faz com que ela se aproxime do conto. Mas, na crônica, o diálogo é forma de interação, que cria uma importante cumplicidade com o leitor, principalmente, através de perguntas lançadas ao ar; ou então, para manter um formato que se aproxime do bate-papo, sua característica marcante:
METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi, basicamente, de pesquisas bibliográficas e levantamentos de dados a partir de leituras e reflexões de textos relacionados ao tema proposto. Em tais leituras, sobressaltamos o unânime entendimento de que consagrados escritores da literatura brasileira, de ontem e de hoje (como Machado de Assis e Carlos Heitor Cony), usam do espaço destinado às crônicas como meio eficaz para a conquista dos leitores.

Nenhuma crônica foi transcrita neste estudo, justamente por serem muitas e de tão diferentes estilos, pois o que desejamos é enfatizar os potenciais deste gênero textual , e a percepção de que uma crônica não é um ‘gênero menor’ da Literatura – como também não se resume ao universo literário, pois é híbrida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do espetáculo da vida, a crônica começa ocupar um espaço na literatura. Como gênero literário possui relativa autonomia, advindo da imaginação criadora, visando naturalmente o despertar estético e não o interesse de informar, ensinar ou mesmo orientar o leitor.Assim a crônica adquire uma forma literária autônoma, comunica-se através de uma linguagem dos indivíduos na sociedade. Trata dos pequenos detalhes da sua vida social, fazendo um relato em permanente relação com o tempo, de onde tira, como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido. Isto pode ser aplicado ao discurso da história porque sua constante atividade crítica movimenta o exercício da lembrança e da escrita.

Nesse sentido, a crônica pode ser caracterizada como ferramental útil para realizar um estudo histórico de uma sociedade. A ordem e sua coerência não são elementos de distinção, pois seu caráter de ambigüidade faz dela um gênero específico na literatura o qual, não raro, a conduz ao conto, ao ensaio, por vezes, e, freqüentemente, ao poema em prosa. Desse modo, as crônicas não são puro jornalismo ou reportagem. Somente a ligação com a vida cotidiana é que situa a crônica bem próxima do jornalismo, mas diferenciando-se por não ter aquela característica impressionista, de experiência de choque, transmitida como uma mercadoria para o consumo em massa.

O cronista, artista solitário perdido no mundo da informação, busca na crônica o meio de satisfazer seus desejos, suas emoções, seus sonhos irrealizáveis e através dela manifestar seu descontentamento com os projetos de vida compostos no interior de sua sociedade. E, pode se dizer que, é difícil encontrar homens que consigam se comunicar melhor que o cronista. A crônica, esse meio comunicativo, insinuante e ágil é por natureza a arte do cronista.

No entanto, a crônica constitui-se fundamentalmente como um gênero literário, que fala do tempo e da vida humana, que conserva na memória pequenos dias vividos pela sociedade. Situa-se justamente além da notícia, mas no limite da transmissão de experiências vividas pelos homens em sociedade. Em suma, “situa-se bem perto do chão, no cotidiano da cidade moderna, e escolhe a linguagem simples e comunicativa, o tom menor do bate-papo entre amigos, para tratar das pequenas coisas que formam a vida diária, onde às vezes encontra a mais alta poesia”.
BIBLIOGRAFIA

AMORA, Antônio Soares. Introdução a teoria da literatura. São Paulo: Cultrix, 2006

CANDIDO, Antônio. Para gostar de ler. São Paulo: Ática 1982. Prefácio, p. 6.

AMORA, Antônio Soares.Introdução a teoria da literatura .São Paulo: Cultrix, 2006.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

Crônica. Disponível em acesso em 26/10/2010.

ANDRADE, Sérgio Carneiro de. Gêneros textuais crônicas e notícia de jornal. Disponível em < http://www.textolivre.com.br > acesso em: 26/10/2010.

NERY, Alfredina. Gênero entre literatura e jornalismo. Disponível em acesso em: 25/10/2010.

O ESTUDO SOBRE O GÊNERO FÁBULA

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
CENTRO DE LETRAS E ARTES
PRODUÇÃO DE TEXTO
O ESTUDO SOBRE O GÊNERO FÁBULA*
Maria Edinádia Carvalho Machado1
Maria Jarina Silva Aguiar2

RESUMO: Este artigo tem como propósito analisar o o gênero fábula, apresentando seu conceito, características; fazendo também comparações e associações com outros gêneros parecidos. Este estudo teve como base, alguns estudiosos como Moisés, Magalhães, Da Silva, Zamoner. E foi possível perceber através de estudos, pesquisas que nem sempre é fácil delimitar um tipo de gênero, mas que é sempre possível conceituá-lo e entender suas respectivas funções comunicativas.
PALAVRAS-CHAVE:Fábula. Gênero. Narrativa. Esopo.La Fontaine.

 
INTRODUÇÃO

O gênero Fábula é muito conhecido e estudado nas salas de aulas,pois desperta curiosidade e por tal motivo é importante fazer um estudo a cerca da origem e história da mesma. Sabendo que é muito difícil conceituar gênero, afinal muitas são as definições apresentadas para designá-lo, pois desde as primeiras classificações, feitas por Platão e Aristóteles, na Grécia Antiga,a literatura tem sido organizada por gêneros, e tais gêneros estavam classificadas em : o Lírico,o Épico e o Dramático.

Como foram surgindo outros gêneros, o modelo de classificação clássico não era mais correspondente, pois já não abrangiam os novos tipos de gêneros. Assim surge no período moderno uma forma de organizá-los, esta classificação era em : Gênero Ensaístico;Gênero Narrativo e em Gênero Lírico. Quanto ao conceito de Gênero, Cereja e Magalhães(2000,p.11) “o gênero textual é uma espécie de “ferramenta”que utiliza-se em determinadas situações de comunicação. Sua escolha é feita de acordo com diferentes elementos que participam do contexto(...)”.

Diante do que foi dito faz-se pensar que na classificação de gênero é muito importante está atento para alguns dados de significância, pois os elementos do texto é quem vai estabelecer o tipo de gênero textual, pois é preciso está atento para :o objetivo do texto, para quem o texto é digerido e por quem foi escrito , e tais informações são indispensáveis para que o gênero textual seja estabelecido.

 
1e2 Alunas do 4º período de Letras da Universidade Estadual Vale do Acaraú

*Artigo elaborado como requisito necessário para adquirir-se a nota da AP2

 
A FÁBULA, CONCEITO E HISTÓRIA

 
O gênero “fábula” é classificado como um gênero narrativo, trata-se de um texto curto, cujos personagens são animais e traz no inicio ou no final uma lição de moral. Muitas vezes chega a ser confundido com outros tipos de textos, assim como mostra Moisés (1974.p37), fábula é “Narrativa curta,não raro identificado com o Apólogo e a Parábola, em razão da moral,implícita ou explícita, que deve encerrar, é protagonizada por animais irracionais,(...)” ,ou seja, embora haja outros textos que conservem na estrutura características da Fábula, mesmo assim, existe particularidades que pertencem somente às fábulas.

É importante mencionar que a Fábula surge como forma de fazer uma crítica à sociedade, aos comportamentos humanos, como ressalta Moisés(1974.p.39): ”(...) preservando as características próprias, deixa transparecer uma alusão, via de regra satírica ou pedagógica, aos seres humanos(...)”. Mediante ao enunciado,pode-se dizer que as estórias, contadas com uso de ilustrações e de uma maneira bem descontraída, na verdade encerra-se como uma maneira de educar o homem, para que este perceba as próprias atitudes mediante aos seus semelhantes

A fábula diversifica-se na temática, retrata a realidade de forma irônica , tem duas partes : a Narrativa e a Moralidade e, como mostra Silva(2008,p.1) “a primeira trabalha as imagens,(...), o corpo dinâmico e figurativo da ação. A outra opera com conceitos gerais e pretendem ser a verdade falando de homens” . Assim percebe-se a importância da narrativa e da moral, pois na composição de fábulas ambas são necessárias .

As fábulas surgiram no oriente e foi reinventada no ocidente por um escravo Grego :Esopo. È preciso dizer que as fábulas tiveram três momentos , pois existem as fábulas de Esopo, Fedro e as de La Fontaine e seguidores. Relata-se que Esopo era um orador popular que utilizava -se de estórias para convencer as pessoas, pois ao escutarem as narrativas, relatadas oralmente, os ouvintes sentiam-se mobilizados emocionalmente e isto faziam agir através do bom-senso. É importante mencionar que os tais textos tinham como personagens centrais , os animais. Esopo fazia diálogos, que transmitiam sabedoria ao homem e como forma de tornar as críticas feitas mais suave, ele colocava figuras de animais para retratar os defeitos e virtudes do ser humano, sendo que os animais de alguma forma tem características que lembram o comportamento do homem.

Além das fábulas de Esopo, temos as de Fedro, pois neste período as narrativas eram escritas em forma de versos e também faziam críticas a sociedade da época. Como ressalta Silva(2008,p.1) “escritas em verso ,as estórias de Fedro são sátiras amargas(...) contra costumes e pessoas de seu tempo”. Mediante este trecho percebe-se que Fedro fez críticas ferrenhas ,estas que afetavam diretamente a sensibilidade dos leitores. É necessário ressaltar que ele espelhou-se nas narrativas de Esopo. Além disso Fedro fez traduções para o latim das fábulas de Esopo, como já se sabe , estas que eram contadas oralmente e que depois foram escritas .

Um outro momento das fábulas é o período que são escritas por La Fontaine e seus seguidores modernistas. Neste momento La Fontaine fez o resgate das estorias, estas que estavam no imaginário humano. Além de explorar a memória da população da época, ele também buscava documentos como:Fábulas de Esopo, fábulas de Fedro , parábolas bíblicas . Quando conseguiu reunir muitos textos as reinventou em formas de versos, sendo que este conjunto de textos ficaram conhecidos como Fábulas de La Fontaine. Eram narrativas com grande teor de criticidade e moralismo, pois como mostra Coelho(2008,p.28) “(...)suas fábulas eram verdadeiras textos cifrados, a que denunciavam as intrigas, os desequilíbrios ou as injustiças que aconteciam na vida da corte ou entre o povo”. Pode-se dizer que as fábulas mesmo ultrapassando tempos,sofrendo modificações, não deixam de trazerem crítica e sabedoria aos homens, ainda que seja de forma implícita . Lembrando que os estudos feitos por La Fontaine serve como base para os estudos de outros fabulistas.

Foram através de fábulas como : a Raposa e as Uvas;O Lobo e o Cordeiro;O Leão e o Rato, que a população vai tomando consciência dos atitudes e atos, pois é válido lembrar que embora tais narrativas sejam muito antigas , são de grande importância para o homem, como ressalta Coelho(2008,p.28) “Todas alimentadas de uma sabedoria pratica que não envelheceu, pois se fundamenta na natureza humana, e isto como sabemos, continua o mesmo, através dos milênios”. Mediante este trecho percebe-se que apesar dos anos passarem e das modificações sofridas pela fábula, esta continuará sendo linda e relida , pois como bem foi mostrado , o ser humano continuar cometendo erros , e precisa das fábulas para dá-lhes lições de moral.

 
A DIFERENÇA ENTRE FÁBULA, PARÁBOLA E APÓLOGO

Sabe-se que os três textos aqui mencionados têm semelhanças entre si,no entanto é necessário estabelecer e esclarecer a diferença que um tem em relação ao outro; pois para Zamoner(1987,p.42) a parábola trata-se de uma “Narrativa curta, pretendendo conter alguma lição ética, moral implícita ou explícita; diferenciando da fábula e do apólogo, por ser protagonizada por pessoas”.

Mediante ao enunciado, fica evidente a diferença entre a fábula, que é protagonizada por animais e a parábola, por seres humanos. Faz -se preciso dizer que parábolas são narrativas bastante semelhantes às obras religiosas, e portanto a um texto bíblico.

Já o apólogo,segundo Costa(2007,p.74) é “protagonizado por personagens não humanos, dramatização no diálogo e moral, implícita ou explícita”. Assim, de acordo com o enunciado citado,pode-se perceber claramente a diferença entre um apólogo e a fábula, afinal na fábula os animais personificam as atitudes humanas, enquanto no apólogo são os seres inanimados que são personificados. Tem-se um apólogo quando em um texto tem-se ,por exemplo uma vassoura conversando (dialogando) com um aspirador; mas assim como nas fábulas o objetivo final é fazer críticas ao comportamento humano e repassar uma lição de vida para todos os leitores.

Apesar de se ter estabelecido a diferença entre os textos,a verdade é que todos eles remetem-se ao comportamento do homem, fazendo entender que apesar do artifício de categorizar os personagens em seres inanimados, animais irracionais e objetos inanimados, isto de acordo com o tipo de texto, é importante entender que o objetivo final é um só, pois todos pretendem chamar a atenção do homem para que reconheça seus erros e busque melhorar suas atitudes mediante os semelhantes.

 
METODOLOGIA

 
O método utilizado neste estudo foi por meio de pesquisas feitas em livros,sites baseado em descrições para assim se obter o conceito do gênero fábula e sua perspectiva evolução através dos tempos,e diferenciações entre fábula, apólogo e parábola para que por meio disso se possa realmente entender o gênero fábula.

E com base nisto, foi possível elaborar o presente artigo,no qual observa-se em seu corpo frases e citações retiradas de livros , de diversos autores como Zamoner, Silva e Moisés.

 
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo aqui realizado , deixa evidente que há muito que se comentar e discutir sobre fábula, pois existe muito que se analisar a cerca da origem e história da mesma. Apesar da pesquisa aqui feita, não ter sido aprofundada, mesmo assim pode-se entender a importância deste gênero para a vida do homem.

Além disso, todas as informações fornecidas acerca do gênero Fábula, ajudam a entender um pouco desta narrativa que muito é conhecida , mas que poucos dão importância em realizar estudos sobre a mesma.

É importante dizer que são através de estórias como as fábulas, que o homem passa a refletir e corrigir as próprias atitudes.

 
REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS

CEREJA,William Roberto;MAGALHÃES,Thereza Cochar.Texto e Interação :uma proposta de produção textual de gênero e projetos.2ed.São Paulo:Atual,2000.
COELHO,Nelly Novaes.IN:O Conto de Fadas:símbolos-mitos-arquétipos.1ed.São Paulo:Paulinas,2008.
COSTA,Marta Morais.Metodologia do ensino de literatura infantil.Curitiba:Ibpex,2007.
MOISÉS,Massaud.Dicionário de Termos Literários.12ed.São Paulo:Cultrix, 2004.

SILVA,Tatiane Leite da.disponível em:acesso em:14 de outubro 2010
ZAMONER,Airo.disponíveem:acesso em :19 de outubro 2010



terça-feira, 23 de novembro de 2010

ANÁLISE DO GÊNERO, CARTA E BILHETE.

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ- UVA

CENTRO DE LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS

PRODUÇÃO DE TEXTO: GÊNERO CARTA E BILHETE

AP 2: EXPOSIÇÃO DO ARTIGO 20 MIN.

AP 3: ENTREGA DO ARTIGO POR ESCRITO-IMPRESSO





1ANÁLISE DO GÊNERO, CARTA E BILHETE.



2 Francisco José Gomes Alves

Luciana Linhares Dos Santos



RESUMO: Este artigo tem como propósito apresentar uma análise sobre o gênero carta, observando conceito, evolução, características e associando a um gênero semelhante, o bilhete. Bakhtin, Marcuschi, Silva, Bazerman, Travaglia, Higounet são alguns dos estudiosos mencionados este estudo. O resultado que chegamo,s podemos dizer que nem sempre é fácil delimitar, com precisão, as fronteiras que diferenciam os gêneros, seus conceitos evolução e características, mas é possível observar como se estrutura e qual função comunicativa ele exerce.


Palavras-chave: Gênero.Carta. Bilhete e Estrutura.



ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CARTA


Uma das necessidades da humanidade sempre foi a de comunicar-se. Cassirer (2001, p. 182-183) nos explica que o homem por sua vez ao manter uma relação intensa com a natureza, sentia a necessidade de expressar-se. A própria natureza não passava de uma grande sociedade, a sociedade da vida. O uso da palavra mágica fazia com o homem tivesse essa afinidade com mundo natural. Para ele, o mundo pode ouvir e entender, logo se os poderes da natureza forem convocados de maneira certa, não poderão negar-se a ajudar. Mas o homem percebe que a natureza não entendia o que ele falava, não porque relutasse em atender as exigências dele, mas porque não entendia a linguagem que ele falava.

Com isso, entende-se que a língua desde o princípio tem sido um continuo processo evolutivo. Ela não é algo imutável, pois está sempre constante movimento, adquirindo novas formas e sentidos. É nesse aspecto de evolução que a linguagem passa através da escrita a sumir, não, mas uma forma abstrata e sim concreta. E em relação à linguagem oral, como os estúdios citam, podemos dizer que a escrita apareceu muito tardiamente, mas, com o seu surgimento, aparecem as variadas formas de comunicação entre os seres humanos. A partir daí, o homem percebe que pode interagir com o outro repassando suas mensagens de modo mais sólido e duradouro. Exercendo grande fascínio sobre o homem, segundo Higounet (2003, p.09):


a linguagem escrita é mais que um instrumento. Mesmo emudecendo a palavra, ela não apenas a guarda, ela realiza o pensamento que até então permanece em estado de possibilidade. Os mais simples traços desenhados pelo homem em pedra ou papel são apenas um meio, eles também encerram e ressuscitam a todo o momento o pensamento humano.


Mas a linguagem escrita, assim como a linguagem oral, para servir como instrumento de comunicação, precisa ser produzido utilizando um código conhecido pelo receptor e realizar-se através de enunciados na interação verbal. Para Bakhtin (1979-2003, p.283) “aprender a falar significa aprender a construir enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por palavras isoladas)”. Na fala ou na escrita, cada enunciado mantém um elo de ligação com outro enunciado, completando assim, o sentido do que se quis dizer durante o ato de comunicação. Para o autor (idem, p.289) “todo enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva”, e é através desses enunciados, devidamente elaborados, ligando-se dentro dessa cadeia comunicativa, que se forma o ato da interação verbal.

Nesse aspecto, os gêneros textuais se caracterizam como uma interação verbal. Em que o gênero lida com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Bakhtin (2001) aponta a necessidade de analisar os gêneros como um discurso que faz parte da vida do falante de uma língua. E este só se comunica por meio de gêneros. Marcuschi (2008) solicita a nossa observação para a maneira como devemos compreender a linguagem numa perspectiva do gênero. Uma linguagem que parte do social e do cultural numa visão historicizante e ideológica, e não de abordagem meramente descaracteriza do social.

O conceito breve histórico sobre o gênero nem sempre foi tão fácil definir e classificar os gêneros textuais. Há estudiosos que partem do domínio discursivo, outros que manifestam suas analises apoiando-se nas segmentações tipológicas e existem ainda algumas que se aproximam do conceito de texto e suas variações. O domínio discursivo diz respeito à natureza da linguagem, esfera discursiva (gênero literário, jornalístico, acadêmico e etc ).

As tipologias costumam agrupar os gêneros, dependendo da abordagem escolhida pelo teórico, à narrativa incluirá os gêneros: conto, poema épico, crônica, romance, história cotidiana, lendas e etc.

Os que entendem os gêneros com um texto base e suas variações avaliam o ensaio, por exemplo, como um gênero e os subgêneros (ensaio acadêmico, ensaio literário, ensaio artístico) como variáveis de uma categoria.

O conceito de gênero não é uma definição recente, desde os retóricos e os estudiosos da literatura antiga ou clássica, já se apresentavam, de forma de diversa do que são hoje, as concepções de gêneros conforme justificam Marcuschi (2009, p.147), o estudo dos gêneros textuais não é novo e, no ocidente, já tem pelo menos vinte e cinco séculos, se consideramos que sua observação sistemática inicia-se em Platão. Durante muito tempo os gêneros foram estudados numa perspectiva dos gêneros literários. No passado o discurso oral ou escrito era estudado também concepção retórica. Nesta percepção consideravam os elementos a comunicação como indispensável para realização do gênero, que eram “ter o que dizer”, “ter alguém interessado na mensagem” e “saber lidar com o modo de dizer”. Não se usava a palavra gênero, na retórica, mas no discurso escrito oral, ou ainda religioso, político e etc.

O discurso “carta” não foge a esta concepção histórica. Era comum, entre os grandes filósofos, acadêmicos e artistas, além de historiadores se relacionarem ou manterem-se informadores por meio de bilhetes e cartas. Existia até escritores que os citavam em seus romances. Assim também livros instrutivos de como se deveriam produzir cartas.

Com o surgimento da escrita, aparecem os meios de sua utilização auxiliando na interação entre os homens. E, para manter a comunicação, mesmo à distância, o meio mais usado é a carta. Aparecem vários tipos de cartas: pessoal, oficial, comercial.

Algumas viram documentos comprobatórios da História como a carta de Pero Vaz de Caminha. A carta meio de comunicação pessoal imprescindível, leva a interação entre duas ou mais pessoas, pois pode ser escrita ou lida colaborativamente, sendo que, no geral, é enviada de um indivíduo a outro. É uma forma de comunicação muito presente nas obras literárias, basta lembrar-se da obra “A Moreninha” que vem à lembrança a doce carta de Augusto a Carolina.

Ao distinguir os gêneros do discurso, Bakhtin (2000, p. 281) inclui a carta entre os gêneros primários, ou seja, entre aqueles que se constituem em circunstâncias de uma comunicação espontânea. Situada em espaço e tempo determinados, ela é empregada em situações comunicativas que se caracterizam pela ausência de contato imediato entre emissor e receptores.

Silva (1997, p. 297-304), ao analisar cartas em geral, reconhece a abrangência desse gênero, que se concretizam em variados tipos de comunicação, notícias familiares ou de amigos distantes, informações, pedido, agradecimento, congratulações, correspondência dirigida a jornais e revistas, reclamação, cobrança, intimação, prestação de contas, entre outros –, apresenta funções diversas e circula em diferentes esferas de atividades (relações pessoais, situações públicas, trabalho, negócios, propaganda, burocracia etc).

Bazerman, (2005, p. 83), segundo esse autor, a origem das cartas remonta aos primeiros registros de comandos orais dos que tinham poder, transformados em gêneros escritos como ordens, leis, códigos, proclamações. Ao serem redigidos em forma de cartas e identificarem o autor e a audiência, tais comandos se fortaleceram pelo poder da escrita. Em período mais antigo, eram entregues por mensageiro pessoal da autoridade o qual, ao recitá-las, passava a representar a própria presença ou projeção do emissor. Às vezes, aquele portava uma segunda mensagem falada, não confiada à escrita. Assim, mesmo quando deixaram de serem recitadas pelo mensageiro, as cartas mantiveram o propósito da projeção (parousia) da presença do autor através da escrita

Para analisar as cartas em sua variedade, Bazerman, (2005, p. 86-87) estrutura e usa, como seguiremos três critérios de natureza diversa: 1) contextual , que correspondem a situação de produção e condição de produção; 2) lingüística, que remete a traços lingüísticos e textuais; e 3) funcional, que considera os objetivos do texto, intenções pretendidas, atos de fala dentre outros. Os primeiros devem levar em considerações as características ou traços distintivos e depois outros aspectos lingüísticos. De acordo com Marcuschi (2000, p.11), o agrupamento dos gêneros textuais ocorre baseado em critérios que os qualificam e os constituem, simultaneamente.




CARACTERÍSTICAS DA CARTA


Para exemplificar, Marcuschi (2000,p.11) utiliza o gênero carta, descrevendo os elementos básicos utilizados para identificar minimamente este gênero: local e data; saudação; texto; e assinatura. Reconhece a existência de vários formatos de carta e afirma que a noção da forma textual deste gênero serve, apenas, como um guia para a realização de um grande numero de outros gênero que se situam em uma conjunto.

A carta se apresenta, empiricamente, de diversas formas (carta resposta, carta programa, carta do editor dentre outras) e, por isso acreditamos que seria uma variedade do todo que classifica está diversidade infindáveis de formas e conteúdos. Por isso, classificamos a carta como um texto que envolve um contexto comunicativo, sendo um fenômeno empírico global e um fato social consolidado nas práticas discursivas diárias. Marcuschi, (2000:64). Para exemplificar, utiliza o gênero carta, descrevendo os elementos básicos, utilizados para identificar minimamente este gênero: local e data; saudação; texto; e assinatura.

Desta forma, há dificuldade para classificarmos os gêneros, pois estes ao serem histórica e socialmente situados mudam as suas formas, surgem outros novos, desaparecem, acompanhando a “complexidade” da sociedade. A carta é um gênero que está situado em contextos comunicativos bem definidos, mas diversificados, o que possibilita uma enorme variedade na sua forma estrutural. No entanto, as formas textuais dos gêneros possuem marcas lingüísticas mais ou menos estereotipadas, Identificáveis desde o início do texto. No caso da carta seria a saudação (Prezado cliente; Querido amigo; Excelentíssimo Sr. Presidente da República, dentre outras), como podemos perceber no exemplo (1) a seguir. Estas marcas lingüísticas, segundo Marcuschi (2000, p.67) são fórmulas históricas que surgiram ao longo do tempo e das práticas sociais e têm suas características específicas, por isso, são modelos comunicativos.


Exemplo 1



CÂMARA DOS DEPUTADOS

ARMANDO ABÍLIO

DEPUTADO FEDERAL


Brasília, junho de 2000

Prezado (a) Senhor (a),

Ao final de cada ano temos a obrigação de fazer uma

prestação de contas dos trabalhos parlamentares que realizamos em defesa

de Campina Grande.


Junto a alguns companheiros, durante o ano, conseguimos

a liberação de recursos para as seguintes ações governamentais:



1- Recuperação de casas populares;

2- Esgotamento Sanitário e Saneamento Básico;

3- Colocar o município de Campina Grande dentro do Programa

Agente Jovem”;

4- Construção do Canal de Bodocongó – esta obra que é

tida como um dos maiores projetos já construído nesta

cidade;

5- Renegociação dos débitos rurais; e a

6- Vinculação dos recursos para a saúde pública;

7- Em favor da permanência do 31° Grupamento de Infantaria;

8- Municipalização da Saúde.

Certo do dever cumprido

ARMANDO ABÍLIO

DEPUTADO FEDERAL



De ante desse exemplo, podemos perceber que a carta não só está ligada ao ato da fala como também, com a interação do meio social e suas práticas, uma perspectiva empírica do uso da mesma. Com isso apresentam estereótipo como formas que já são fixas, prontas e pré-estabelecidas nesse tipo de gênero. E o que acontece com as saudações que dependendo do destinatário vai se apresentar de diversas formas já existentes. Essas formas são definidas de cardo com o meio social que destinatária se encontra.

A carta, mesmo sendo flexível e apresentando variação na forma e nos meios de divulgação (carta do leitor – revista; carta programa – panfleto; carta aberta – jornal etc.), possui traços estáveis em sua composição, constituindo uma estrutura definida por sua função.

Segundo Silva (1988:76), a estrutura fixa da carta é composta por três partes: a seção de contato, o núcleo da carta e a seção de despedida. Esses elementos, básicos, organizam a seqüência e contribuem para a unidade interna do texto. Nestas partes, encontramos marcas estruturais como lugar, tempo, destinatário, remetente, saudação, despedida entre outros, que possibilitam, devido à diversidade existente em circulação na sociedade, uma variedade de cartas com nomes classificatórios diferentes, como os exemplos abaixo, em que na carta do leitor, exemplo (4) o autor mostra a sua opinião sobre determinada entrevista lida; e na carta propaganda, exemplo (5) criada na intenção de divulgar o e-mail como o meio mais rápido e simples para comunicação.











Exemplo 4





Sou índio da nação xerente e tenho orgulho disso.

Não acreditei quando vi no mapa das páginas 14 e 15 da revista de

abril (“A saga dos velhos brasileiros”) um time de futebol formado por

índios xerente do Tocantins, onde fica a querida aldeia onde morei e

onde ainda vivem meu irmão e minha irmã.

Aqui vai meu endereço caso algum leitor da revista queira me escrever.

Manoel Moreno Watothery de Carvalho

Caixa Postal 10874

CEP 70300-980

Brasília, DF

(Revista Veja 26 de julho de 2000, p. 94)






Exemplo 5



Prezado Príncipe Charles:



Você não me conhece, meu nome é Luís.

Sabe o que é eu estou indo pra Inglaterra amanhã. É uma excursão,

vou conhecer esses castelos aí...

Só que eu preciso fazer as malas e não sei se em Londres tá fazendo

frio ou calor. Aí eu pensei: por que eu não escrevo um e-mail e

pergunto?

Por isso, seu príncipe, será que o Senhor poderia dar uma olhadinha

pela janela e me dizer como é que tá o tempo?

Atenciosamente,

Luís

(Revista Veja, 03 de novembro de 1999, p.154 – 155)


As cartas, vistas nos exemplos 4 e 5, possuem estruturas diferentes tanto na saudação (o exemplo 4, não a possui), assim como na despedida, em que no exemplo 4 o índio termina o texto com seu endereço na perspectiva de troca de cartas (característica não determinada como traço estável na composição da carta), enquanto que no exemplo 5, Luís termina seu texto com uma forma dita como fixa e característica da seção de despedida do gênero carta. Esta diversidade é um reflexo das variedades de lugar, tempo, contexto, remetente-destinatário em suas relações recíprocas e das finalidades do texto, sejam elas de comunicação pessoal (carta pessoal) ou comunitária (carta institucional).

A carta, por ter uma estrutura institucionalmente aceita, tem um modelo macroestrutural fixo para a sua definição, presente tanto em livros didáticos como em livros de técnicas de redação. Cada um destes, com finalidades distintas, como de apresentar o modelo de preparação específica e detalhada das mais variadas cartas para a práxis cotidiana, enquanto que aqueles mostram ao aluno a estrutura geral, de forma superficial, apenas para o conhecimento do que seja uma carta. Em outras palavras, esses livros estabelecem as mais variadas formas concretas de realização de cartas, e em muitos casos também o conteúdo, que servem de referência “cristalizada” para que sejam aplicados na sociedade, onde encontramos cartas pessoais e institucionais. Estes conteúdos podem ser tanto narrativo quanto argumentativo, expositivo, descritivo e/ou injuntivo. Desta forma, o gênero, mesmo tendo uma forte convenção de sua realização concreta, oferece uma grande margem de variação desde o nível temático até o da planificação, Machado, (1998:104).

Nas cartas, há o entrecruzamento das características gerais do gênero com os valores atribuídos pelo remetente à situação de ação de linguagem específica e única que o produtor do texto vive, surgindo o estilo como efeito da individualidade do escritor. No entanto, as características básicas do gênero não são descartadas, mas adaptadas à forma de escrever do autor, não podendo ser considerada variedade do gênero. Atualmente, este gênero é mais recorrente nas práticas públicas comerciais e políticas, apresentando uma estrutura institucionalmente aceita com modelo fixo para a sua definição: local e data, saudação, destinatário, texto da carta, despedida e remetente, desempenhando o papel de servir como meio usual e prático para a comunicação e documentação nas suas mais variadas relações pessoais e comerciais.

Os livros didáticos do Ensino Fundamental abordam a estrutura de cartas, restringindo-se às pessoais como se essas fossem a única variedade de carta em circulação na sociedade. Segundo estes livros, a carta deve ser escrita da seguinte maneira: local e data; identificação e endereço do destinatário; saudação; conteúdo da carta; despedida e assinatura do remetente, como podemos observar no exemplo a seguir. Os programas existentes nos computadores, também apresentam seus modelos de cartas, com a mesma estrutura definida pelos livros, impossibilitando a liberdade criativa dos autores das cartas na estrutura dessas.


Exemplo 6



Uma carta para Gustavo

O que você achou dos sentimentos do jovem Gustavo, registrados

em seu diário? Escreva uma carta para ele contando suas idéias sobre ser

jovem e sentir-se sozinho, sobre as dificuldades de relacionamento com

outras pessoas, sobre a vontade de comportar-se com mais segurança,

etc.

Não se esqueça de que uma carta deve conter a indicação de um

local e de uma data, uma saudação, uma conversa inicial que estabeleça

o contato entre o remetente o destinatário, o assunto principal, a finalização,

a despedida e a assinatura.

(A palavra é português, 8ª, p.20)

A CARACTERÍSTICA E O GÊNERO BILHETE


O bilhete, assim como a carta, mantém esse elo na comunicação escrita. Sendo mais breve, objetivo e com linguagem simples, auxilia em todos os momentos e são incansavelmente utilizados pelas crianças. No processo de aquisição da linguagem escrita, é este o primeiro gênero a fazer parte do universo infantil. Basta observar o uso que as crianças fazem do bilhete em sala de aula, escrevendo para a “tia” e para os coleguinhas, seja para dizer-lhes coisas boas ou para fazer gracinhas; usam ainda esse gênero em casa, enviando pequenos bilhetes à mãe, aos familiares ou vizinhos. O bilhete no mundo do adulto aparece também em forma de pequenos lembretes do chefe à secretária, da patroa à empregada, do professor aos pais de alunos. É um gênero que permanece, através dos tempos, fazendo parte do cotidiano de cada um.


Vamos ver estes exemplos:


Exemplo (1)



O “bilhete elaborado por Rafa à sua mãe. Supõe-se que a mãe conheça Manu, daí porque não há mais informações sobre quem seja Manu” “A expressão “ah!É marca da oralidade e mostra uma lembrança (na linguagem formal equivale ao “em tempo”), como se algo estivesse sendo esquecido. “A palavra beijo abreviados mostra a informalidade como marca desse gênero de texto, incluindo o apelido Rafa da Rafaela ou Rafael, provavelmente”



Exemplo (2)





Como exemplos de marcas de oralidade encontradas nos Bilhetes, destacamos as seguintes: “nóis vamos aí”, “mostrar a suas obras”, “que você vinha”, “nóis ir”, “nóis conhecer você”, “poderia vim”, “se não poder (puder)”, “se o senhor poder vim nós ficaremos munto feliz”, “nós conhecer”, “ah e também”. Em se tratando da pontuação no gênero bilhete, e compreendendo-a não como um elemento estável, mas dependente, entre outras coisas, da característica do gênero, seria necessário encontrar, minimamente, o uso da vírgula, principalmente após vocativo (e no decorrer do texto, caso fosse necessário o seu emprego), assim como do ponto final para encerrar o assunto (no caso, o convite ao Dirceu Rosa). No entanto, a maioria dos textos não apresentou esses (ou nenhum) sinais de pontuação.




Muitos estudos sobre o desenvolvimento da capacidade que a criança tem para redigir focalizam o tipo de discurso usado por esses pequenos escritores. Os objetivos comunicacionais aspirados por eles e o grau de maturidade sintática nas construções usadas nos textos, KATO (2002, p.193). Pode-se observar isto nos textos a serem analisados, pois vê se que as crianças quando escrevem, buscam abrir os caminhos da comunicação e, para isso, utilizam um tipo de discurso que aparece num determinado gênero textual, dependendo da maturidade já alcançada na aprendizagem da escrita. Como afirma Schnewly e Dolz (2004, p.17), “os gêneros são muitos e circulam em esferas sociais específicas – cotidianas, burocráticas, de imprensa, dos negócios, literárias e artísticas etc.”, portanto, possuem 1257 diferenças e semelhanças na forma como são produzidos. E isso é percebido muito cedo pelas crianças.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


Conforme do que foi visto, podemos dizer que os gêneros textuais são de muita importância para a competência comunicativa; de leitura, comunicação entre locutores e empíricas no que abrange a lingüística. O gênero carta não foge a esta concepção, pois compre exatamente o papel comunicativo inerentes a qualquer indivíduo.

Em que como foi analisado, percebemos que as cartas ora separa por classes sociais, com a linguagem que é utilizada para o nível social em que vai se dirigir essa carta, como por exemplo, as cartas do presente e castas familiares, pois apresentam recursos lingüísticos diferentes é o que acontece como os tipos de saudações, em que as que são redigidas para o presente trazem saudações de maneira formal e em contra ponto a isso as cartas familiares as saudações são empregadas de maneiras informais, que dar lugar a uma afetividade. Ora essas cartas aproximam-se pelo fato de exercer uma função internacional entre pessoas.

Contudo essa interação comunicativa faz com que as pessoas de classes sócias diferentes, aproximem-se por fazem uso desse gênero que esta presente em ambos os níveis sociais. Já o bilhete apesar de partilhar da mesma função comunicativa da carta difere-se na estrutura, em que na carta evidencias três partes definidas como Silva (1998, p.74) definiu: a seção de contato, o núcleo da carta e a seção de despedida e geralmente a carta esperam se por uma resposta. E em contra partida o bilhete traz informações mais concitas, clara e objetiva que são analisadas como recados, no qual não se espera respostas.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BAKHTIN, M. (2003[1979]). Estética da Criação Verbal. Tradução do russo Paulo Bezerra.

4 ed. São Paulo: Martins Fontes.


CASSIRER, Enest. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1997


HIGOUNET, Charles. História Concisa da Escrita. São Paulo: Parábola, 2003


MASCUSCHI, L. A. e XAVIER, A. C. (2004). Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MASCUSCHI, L. A. e XAVIER, A. C. (orgs.) Hipertexto e_ Gêneros_Digitais. Rio de Janeiro: Lucerna.


SILVA, Veras L. Paredes P. Variação Tipológica no gênero textual carta. São Paulo: Forense.




SCHENEWLY, B.; DOLZ, J. (2004). Gêneros Orais e Escritos na Escola. Campinas, SP:

Mercado de Letras.





TRAVAGLIA,Luiz Carlos.Gramática e Interação:Uma Proposta de ensino de Gramática.12°ed.São Paulo.




KATO, M. A.;SCAVAZZA, B. (2002). A produção de estruturas coordenadas reduzidas por

crianças na linguagem oral e escrita. In: KATO, M. A. A Concepção de Escrita pela criança.

3 ed. Campinas – SP: Pontes.

1 Esse tema foi proposto com a intenção de mostrar a análise dos gêneros textuais das cartas e bilhetes.

2.Alunos do 4° período do curso de letras-língua portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.


2


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ANÁLISE DO GÊNERO NARRATIVO: CONTO

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA

Centro de Letras e Artes

Produção de Texto: Gênero conto

Professora: Maria Soares

ANÁLISE DO GÊNERO NARRATIVO: CONTO1

Ana Cláudia Sousa Elias2

Maria do Carmo Sá Lima3



RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar uma análise do gênero conto, observando conceito, características e semelhanças com outros gêneros. Marcuschi, Gotlib, Poe, Urban e Vieira são alguns dos estudiosos mencionados neste estudo. O resultado a que se chegou mostra que nem sempre é fácil delimitar, com exatidão, as fronteiras que diferenciam os gêneros, seus conceitos, evolução e características, mas que é possível entender como se estrutura e qual a função comunicativa de cada gênero da esfera discursiva narrativa.

Palavras-chave: Conto. Gênero. Crônica. Tipologias.


INTRODUÇÃO


O conto, como gênero literário, representa uma grande flexibilidade na sua forma narrativa, pois o seu objetivo é levar o leitor ao desfecho, que coincide com o ponto mais elevado da história com o máximo de tensão e o mínimo de descrição.

Consultamos, em alguns sites, sobre o gênero conto no qual nos mostram que o século XIX foi o que teve o maior número de mestres na arte de escrever contos. Foi nesse período que surgiram os contos clássicos mais lidos até hoje. E, o século XX, que destacou, principalmente, Kafka, James Joyce e o grande Jorge Luís Borges, como os maiores escritores de todos os tempos.

Paulo Urban, Vieira e Chauí, apresentam o eixo psicanalítico dos contos de fadas no imaginário infantil, enfatizando o relevante papel dos contos de fadas, que são expressões cristalinas e simples de nosso mundo psicológico profundo.

_____________________________________

1Artigo elaborado para a Disciplina Produção Textual sob orientação da professora Maria Soares.

2, 3Alunas do Curso de Letras Habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).


O conto geralmente trata de uma determinada situação e não de várias, atualmente pode-se considerar o conto como a mais promissora forma, pelo fato de ser uma leitura proveitosa e rápida por apresentarem poucas páginas, mas com uma riqueza enorme de um gênero narrativo.


CONCEITO E BREVE HISTÓRICO SOBRE GÊNERO E CONTO


Nem sempre é tão fácil definir, classificar os gêneros textuais. Há estudiosos que partem do domínio discursivo, outros manifestam suas análises apoiando-se nas segmentações tipológicas e, existem ainda alguns que se aproximam do conceito de texto e suas variações. O domínio discursivo diz respeito à natureza da linguagem, esfera discursiva (gênero literário, gênero jornalístico, gênero acadêmico, gênero escolar, gênero epistolares, etc.). As tipologias costuma agrupar ao gêneros, dependendo da abordagem escolhida pelo teórico, a narrativa incluiria os gêneros: conto, crônica, poema épico, romance, história cotidiana, lendas, fábulas, mitos, novelas, etc. Os que entendem o gênero como texto base e suas variações, avaliam o “ensaio”, por exemplo, como um gênero e os subgêneros (ensaio acadêmico, ensaio literário, ensaio artístico) como variáveis de uma mesma categoria.

O conceito de gênero não é uma definição recente, desde os retóricos e os estudiosos da literatura antiga ou clássica, já se apresentam, de forma diversa do que são hoje, as concepções de gênero.

Conforme justificativa Marcuschi (2009, p. 147): “o estudo dos gêneros textuais não é novo e, no Ocidente, já tem pelo menos vinte e cinco séculos, se considerarmos que sua observação sistemática iniciou-se em Platão.”

Durante muito tempo, os Gêneros foram estudados numa perspectiva dos gêneros literários. No passado, o discurso oral ou escrito era estudado também numa concepção retórica. Nesta percepção, consideravam os elementos da comunicação como indispensáveis para a realização do gênero, que eram “ter o que dizer”, “ter alguém interessado na mensagem”, e “saber lidar com o modo de dizer”. Não se visava à palavra Gênero, na retórica, mas discurso escrito ou oral, ou ainda, discurso religioso, político, etc.

Marcuschi afirma que os gêneros não são entidades naturais, mas artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano.

O autor ainda define Gênero Textual como uma noção vaga para os textos materializados encontrados no dia-a-dia e que apresentam características sócio-comunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e posição característica. Diz ainda, que a abordagem textual a partir dos Gêneros Textuais, estão diretamente ligadas ao ensino. Ele afirma que o trabalho com o gênero é uma grande oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Cita o PCN, dizendo que ele apresenta a ideia básica de que um maior conhecimento do funcionamento dos gêneros e para a compreensão dos textos.

O conto é publicamente um gênero literário de difícil definição, e as teorizações por parte de escritores e críticos acerca desse tema atingem grande número e diferentes graus de complexidade, considerando o problema em diferentes contextos, a evolução da concepção do conto e nas diferentes culturas e países.

Conforme Poe (1974, p. 147-163), “O conto é uma narração curta em prosa que requer de meia hora a uma hora e meia ou duas de leitura”. O conto seria a forma narrativa de menor extensão, oposto ao romance, sendo a novela intermediária entre os dois. Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total.

A concisão e a objetividade podem ser aceitas como uma tendência, porém, esta regra se mostra claramente insuficiente à generalização quando se percebe que alguns contos são mais longos que novelas ou mesmo romances. No enredo, o elenco de personagens é reduzido, o esquema de tempo restrito e a ação transcorrem em poucos núcleos, em contraposição ao romance e à novela, que podem apresentar vários núcleos de ação paralelos na composição da trama. A estrutura da ação do conto costuma ser fechada e desenvolver um só conflito. Gotlib mostra que essas características são trazidas pela parábola e a fábula, “a economia do estilo e a situação e proposição temática resumidas”.

A parábola e fábula são alguns tipos específicos de contos, a primeira, protagonizada geralmente por animais que falam, pretende encerrar em sua estrutura dramática alguma “moral” implícita ou explícita. A segunda é uma narrativa curta, pretendo conter alguma lição ética, moral, implícita ou explícita. Difere da fábula por ser protagonizada por pessoas. Portanto, uma tendência que ajuda a definir o conto é o de ser uma narrativa ficcional contendo uma única célula dramática. Por conta desta estrutura, o conto, oral ou escrito, tem a intenção de provocar no leitor uma única resposta emocional, mesmo que toque vários tópicos diferentes.



Conforme afirma Gotlib (2003, p. 16):



O conto é uma narrativa breve; desenrolando um só incidente predominante e um só personagem principal, contém um só assunto cujos detalhes são tão comprimidos e o conjunto do tratamento tão organizado, que produzem uma só impressão.



O conto é uma das formas narrativas mais antigas. Cultivado na transmissão de mitos, fábulas e lendas pela oralidade, esteve presente ininterruptamente na produção de literatura de diferentes povos e culturas, mesmo fora do Ocidente. A etimologia levanta algumas hipóteses sobre a origem do termo; a primeira diz que conto vem de contar, do latim computare – inicialmente a enumeração de objetos, passou a significar metaforicamente, enumeração de acontecimentos. A outra supõe que a palavra deriva de contu (latim), ou do grego Kóntos (extremidade da lança).

Outra possibilidade ainda é a do termo commentum (latim), significando “invenção”, “ficção”. A ambiguidade presente nas diferentes hipóteses etimológicas indica aspectos, como a própria abrangência do conto, sua antiguidade, sua ficcionalidade e transformações históricas.

Este parentesco do conto com o fantástico e maravilhoso é tratado por Gotlib quando aborda a terceira acepção de Julio Cesares, a de “fábula” que se conta às crianças para diverti-las. A autora cita o estudioso alemão André Jolles (1874-1946), que abordou a literatura infantil e trouxe uma oposição teórica entre “formas simples” e “forma artística”. A origem dos mitos é incerta no tempo, remetendo-nos aos primórdios, quando algo que foi criado passa a fazer parte dos cosmos.

A ausência de autoria, ou autoria incerta leva André Jolles a classificar os mitos como formas simples, expondo-os às formas artísticas. As primeiras são, segundo o autor, produto do inconsciente coletivo, constituem arquétipos, as segundas provêem do trabalho criador do artista, sendo, portanto individuais. O conto para Jolles é uma forma simples, já que entendido como uma forma simples apresenta uma linguagem que permanece fluida, aberta, dotada de mobilidade e de capacidade de renovação constante. Já a novela é, para o autor, um exemplo de “forma artística”.







Como destaca Gotlib id. (2003, p. 18).



A novela leva a marca do eu criador, é produto de uma personalidade em ação criadora, que tenta representar uma parcela peculiar da realidade, segundo seu ponto de vista único, compondo um universo fechado, coeso, sólido.



Podemos compreender a relevância dos estudos da psicanálise ao analisar os arquétipos presentes nos contos de fada e na mitologia clássica.

Como afirma Paulo Urban ( Texto 8, p. 42):



Os contos de fada são expressões cristalinas e simples de nosso mundo psicológico profundo. De estrutura mais simples que os mitos e as lendas, mas de conteúdo muito mais rico que o mero teor moral encontrado na maioria das fábulas, são os contos de fada a fórmula mágica capaz de envolver a atenção das crianças, despertando-lhes sentimentos e valores intuitivos que chamam por um desenvolvimento justo, tão pleno quanto possa vir a ser o do prestigiado intelecto.



Em essência, os contos de fada podem ser vistos como pequenas obras de arte, capazes que são de nos envolver a mente e comover-nos com a sorte de seus personagens. Causam impacto em nosso psiquismo porque tratam das experiências cotidianas e permitem que nos identifiquemos com as dificuldades ou alegrias de seus heróis, cujos feitos narrados expressam, em suma, a condição humana frente às provações da vida.

Há alguns aspectos bem interessantes a considerar quando pretendemos nos deter na reflexão e no estudo dos contos de fadas. Em primeiro lugar, o fato de que eles falam sempre de relacionamentos humanos primitivos e por isso exprimem sentimentos muito arcaicos do psiquismo humano. Mas porque arcaicos não deixam de ser atuais, talvez até extremamente atraentes e instigadores porque mostram o que se evita manifestar nas nossas sociedades contemporâneas: a raiva, a inveja, a mentira, também o amor, a fidelidade, a generosidade, com suas enormes conseqüências no viver humano.

Nesse sentido, esses contos, como as lendas e os mitos, estão embebidos de princípios éticos universais. Outro aspecto extremamente importante a considerar é que os contos de fadas, sob múltiploas variações, apresentam sempre uma mesma estrutura e temática: falam da busca da totalidade psíquica, da plenitude do ser.

Independente das verdades de alguns teóricos e sempre sabeis educadores, os contos de fadas não deixam de encantar e interessar gerações inteiras, de diversos países e diversas culturas.

Bettelheim identifica nos contos de fadas os principais conflitos que, segundo a psicanálise, acometem o ser desde a primeira infância. O escritor advoga a ideia de que essas narrativas ajudam a criança a desenvolver e organizar seus recursos interiores, na medida em que trabalham simultaneamente com a emoção, com a imaginação e com o intelecto.

COMPARAÇÃO ENTRE OS GÊNEROS CONTO E CRÔNICA

Muitas vezes a crônica confunde-se com o conto. Mas, não é qualquer crônica que se assemelha ao conto. Quando a crônica recebe tratamento linguístico mais apurado, como o uso de várias figuras de linguagem, quando um pequeno enredo é desenvolvido, principalmente com diálogo; é que ela traça fronteiras muito próximas do conto. Podemos enumerar algumas características da crônica que podem ser confrontadas com as do conto.

  1. Personagens

Enquanto o contista mergulha de ponta-cabeça na construção da personagem, o contista age de maneira mais solta. As personagens não têm descrição psicológica profunda; são levemente caracterizadas, suficientes para compor seus traços genéricos, com as quais, qualquer pessoa pode se identificar.

  1. Narrador

Enquanto no conto o narrador (protagonista ou observador) é um personagem. Na crônica, o cronista sequer tem a preocupação de colocar-se na pele de um narrador-personagem. Assim, quem narra uma crônica é o seu autor mesmo, pois, o cronista parte de experiências próprias, de fatos que testemunhou (com certo envolvimento) ou dos quais participou.

Em alguns casos a narrativa é feita na terceira pessoa através de pessoas reais que se tornam personagens envolvidas em acontecimentos reais.

  1. O Assunto

O assunto de uma crônica é sempre resultado daquilo que o cronista colhe em suas conversas; das frases que ouve; das pessoas que observa; das situações que registra; dos flagrantes de esquina; dos fatos do noticiário; dos incidentes domésticos e coisas que acontecem nas ruas. O assunto da crônica, geralmente, está centrado em uma experiência pessoal. Ao passo que o conto, não raro, é produto da imaginação da ficção.

O cronista “pode” numa mesma crônica abordar diversos assuntos, desde que estes estejam ligados entre si por uma mesma linha de raciocínio.

  1. O Desfecho

No conto há um conflito e, geralmente, um desfecho. Como a finalidade da crônica é analisar as circunstâncias de um fato e não concluí-lo, o desfecho é, praticamente, inexistente.

  1. A Linguagem

O cronista procura trazer para suas crônicas a oralidade das ruas. Daí ser predominante nas crônicas a linguagem coloquial.

  1. O Diálogo

É a presença do diálogo na crônica que faz com que ela se aproxime do conto. Mas, na crônica, o diálogo é forma de interação com o leitor, principalmente, através de perguntas lançadas ao ar; ou então, para manter um formato que se aproxime do bate-papo, sua característica marcante:

A crônica tem, hoje, uma linguagem própria, um espaço definido e independente - no jornal ou em qualquer outro veículo de comunicação. Não é superior ou inferior ao conto. Ela é literatura graças ao trabalho consciente dos cronistas-escritores, que fizeram e fazem de seu ofício uma profissão de fé.

GÊNERO CONTO E TIPOLOGIA

Por que o gênero conto? O intuito é realçar o conto, independente de sua tipologia ou temática, como uma modalidade narrativa propícia ao efetivo exercício de leitura em sala de aula, dadas as suas propriedades – condensação, compactação, concentração, que podem ser traduzidas por economia dos meios narrativos co vistas a um efeito único no leitor.

O conto desde sua origem traz como marca a propriedade, exclusivamente sua, de enredar o receptor (leitor ou ouvinte). E é esse o foco de interesse: a “profunda ressonância” de que fala o contista e crítico Júlio Cortazar (1984, p. 151), ou a “impressão de vida ou então simples emoção a ser instalada na alma do leitor” de que trata também o crítico Temístocles Linhares (1973, p.6)

Marcuschi (UFPE) defende o trabalho com textos na escola a partir da abordagem do Gênero Textual. Marcuschi não demonstra favorabilidade ao trabalho com a Tipologia Textual, uma vez que, para ele, o trabalho fica limitado, trazendo para o ensino alguns problemas, uma vez que não é possível, por exemplo, ensinar narrativa em geral, porque, embora possamos classificar vários textos como sendo narrativos, eles se concretizam em formas diferentes – gêneros – que possuem diferenças específicas.

Para Marcuschi, Tipologia Textual é um termo que deve ser usado para designar uma espécie de sequências teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição. Em geral, os tipos textuais abrangem as categorias narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.

Conforme Marcuschi (2002):



Gênero Textual é como uma noção vaga para os textos materializados encontrados no dia a dia e que apresentam características sócio-comunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.



Travaglia (1991): define Tipologia Textual como aquilo que pode instaurar um momento de interação, uma maneira de interlocução, segundo perspectivas que podem variar. Essas perspectivas podem, segundo o autor, estar ligadas ao produtor do texto em relação ao objeto do dizer quanto ao fazer/acontecer, ou conhecer/saber, e quanto à inserção destes no tempo e/ou no espaço.

Os estudos sobre Tipologia Textual apresentam uma infinidade de tipologias criadas e propostas para diferentes fins de análise e de uso prático.



METODOLOGIA

O método utilizado nesta investigação foi a descrição de categorias de analise para uma melhor compreensão do gênero conto. Os principais pontos abordados foram a definição de conceito, evolução e semelhanças com outros gêneros literários.

Desenvolvemos um estudo com pesquisas feitas em sites em livros, as informações foram selecionadas, priorizando os pontos mais importantes para a conclusão dessa pesquisa.

Além das leituras e análises referentes ao gênero conto, tivemos encontros nos intervalos de aula para que pudéssemos discutir o assunto em questão para a obtenção de um melhor resultado.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A grande manifestação criativa do conto moderno, em inúmeras vertentes e autores, não diminui a significância das unidades constantes. Os clássicos são clássicos porque, sendo relidos, sempre dão o que pensar. Toda arte se alimenta da mitologia, porém, para que o novo surja é necessário saber criar, recontar o que já foi contado, usando a magia infinita das ferramentas da linguagem, sempre em evolução.

Este estudo foi bastante proveitoso, pois nos revelou as muitas formas de entender a importância dos gêneros para a formação do homem. Quando reencontramos temas, personagens, situações semelhantes ou já vistos em contos já lidos ou já ouvidos, estamos presenciando o fenômeno lingüístico/discursivo característico de todo o universo da criação literária, a intertextualidade.

Diante do exposto foi possível perceber que os resultados obtidos com esse estudo contribuíram bastante para o nosso aprendizado enquanto acadêmicas e enquanto pessoas que utiliza diariamente dos diversos gêneros da língua. Assim, o aprendizado é exaustivo e sistemático, sendo experienciado diariamente por nós estudantes.















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas.9.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

CORTÁZAR, J. Alguns aspectos do conto. In.: ____. Valise de Cronópio. São Paulo: Perspectiva, p.147-163, 1974.

GOTLIB, Nádia Battela. Teoria do Conto (pg. 16). Série Princípios. Editora Ática. Sâo Paulo: 2003. Seguimos também a contextualização na Enciclopédia on-line Wikipédia, em http://en.wikipedia.org/wiki/Short_story (acesso 15/10/2010).

JOLLES, Andre. Formas simples, São Paulo, Cultrix, 1976. apud KNAPP, Cristina Löff in “A influência do conto popular canônico” (http://www.uel.br/revistas/boitata/volume-1-2006/artigo%20Cristina%20Knaap.pdf , acesso 25/10/2010.

MARCUSCHI, L. A. “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro, 2002: Lucerna.

POE, Edgar Allan. Filosofia da composição. In ______ . Poemas e ensaios. 2 ed. Trad. Oscar Mendes e Milton Amado. Rio de Janeiro: Globo, 1987.

SILVA, Silvio Ribeiro. Gênero textual e tipologia textual: colocações sob dois enfoques teóricos. Disponível em: http://www.unicamp.br. Acesso em 12 de out de 2010.


TRAVAGLIA, L. C. Tipologia textual e o ensino da produção de texto. Uberlândia, MG. Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 3ª Ed.: 1994


URBAN, Paulo. Psicologia dos contos de fadas. Disponível em: http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/artigos/contosfadas.htm. Acesso em 31 de Jul de 2009.


VIEIRA, Isabel Maria de Carvalho. O papel dos contos de fadas na Construção do Imaginário Infantil. In: Rev. Criança, N° 38. Brasília: Ministério da Educação, 2005.